Pular para o conteúdo principal

36) Encruzilhada


“Esqueça a Terra!“ – Estava com aquela frase girando sem parar em minha cabeça desde que foi dita por Kalel. – “Como se fosse possível!” – Pensei recordando o rosto de Maise em vários momentos e expressões.

Após o choque de meu despertar em Celes pedi para falar com Hayel, o conselheiro chefe do projeto e também meu orientador pessoal. Foi ele quem ofereceu este trabalho na Terra e esperava dele não apenas explicações como soluções.

- Adriel! Desculpe não ter vindo antes. Estava em meio a uma explosão em outro projeto e também quis aguardar pelos resultados dos exames.

- Olá, Hayel. Quer dizer que já saíram? Sabem o que exatamente ocorre comigo?

- É lógico que ainda estão aprofundando os testes, mas o resultado preliminar está pronto.

- E???

- Bem, estão de acordo com as suspeitas iniciais. Tanto tempo impregnado com as energias da Terra acabaram por intoxicar e viciar seu corpo fluídico. Você não deveria ter permanecido tanto tempo sem retornar. Pedi-lhe tantas vezes para vir com freqüência, Adriel!

- É, eu sei. Estava tão envolvido com o projeto que fui adiando, adiando e nem vi o tempo passar. É apenas isto que tenho?

- Infelizmente não. Ao que parece esta interação das energias dos dois planos promoveu uma alteração na estrutura química de seu corpo e ele agora é uma fusão de ambos.

- Não entendi.

- Em outras palavras: não pode mais ficar imaterial. Seu estado normal agora é materializado. Seu corpo fluídico é como um imã para as energias da Terra. Você somente está conseguindo manter-se longe delas por estar tão distante e isolado dentro desta sala, mas se sair daqui elas o alcançarão.

- E materializado não posso permanecer em Celes, porque sou pesado demais para o ambiente leve daqui.

- Exatamente. Nem sei como conseguiu chegar. Foi quase um milagre e não acredito que possa fazer o mesmo novamente. Ouça bem, Adriel, se sair de Celes não conseguirá voltar nunca mais.

- E quais são as opções? Devo viver neste quarto protegido pelo resto da eternidade ou renunciar à Celes e viver na Terra? É isto? Devo escolher entre os dois mundos? Porque se for, minha escolha já está feita e quero ficar na Terra.

- Não é tão simples assim, Adriel. Se voltar à Terra estará selando esta união entre seu corpo fluídico e as energias da Terra e o que quer que aconteça com seu corpo materializado ocorrerá também em seu corpo imaterial. Isto significa mais do que poder morrer na Terra, significa tornar-se mortal também enquanto espírito.

- Espíritos são eternos.

- É raro, mas uma desintegração do espírito pode ocorrer. Seu corpo imaterial é o invólucro de seu espírito, de sua essência, de tudo que é e que te torna Adriel e não outro qualquer. Se este invólucro for danificado sua essência dispersará pelo universo, retornando à origem. É muito pouco provável que possa manter sua consciência individual sendo poeira cósmica. Embora sua matéria continue existindo, você não continuará.

- Então devo viver aqui, neste quarto, para sempre?

- Não para sempre. É algo novo e pode demorar alguns anos, mas encontraremos uma forma de recuperar seu corpo fluídico.

- Alguns anos? Impossível. Hayel, tenho que contar-lhe algo: apaixonei-me por uma humana. Ela está a minha espera. Preciso voltar.

- Bem, isto teria que acontecer, mas não imaginei que seria com uma humana.

- Como assim: teria que acontecer?

- Era uma lacuna em sua existência, algo que faltava vivenciar para estar completo e preparado para o próximo passo. Era inevitável que ocorresse porque nossos espíritos atraem automaticamente as experiências que necessitamos. Eu apenas achava que apaixonaria-se por uma celestiana. Era mais provável.

- E por que foi com uma humana? Por causa deste problema com as energias?

- Sim e não. Obviamente a sua identificação com o planeta, o fato de estar vivendo como humano impregnado com suas energias aproximou-o do modo de pensar e sentir dos humanos, abrindo a possibilidade de interessar-se por um deles, mas se não houvesse afinidade com esta humana a atração não ocorreria.

- Ela é especial então? Se eu estava predestinado a amar e ela apareceu em minha vida, ela é minha alma gêmea?

- Almas gêmeas não são como normalmente acreditam na Terra, como se existisse outro ser que completasse o seu ser. Se fosse necessário outro para que fosse completo, seria uma falha de Deus, o que não é verdade. Todos os seres são feitos à imagem e semelhança de Deus e como este é perfeito, também nós o somos ou ao menos contemos a essência da perfeição. O que existem são almas semelhantes que se atraem e mantém-se unidos por afinidade e se é isto que você entende por almas gêmeas, então sim, ela é sua alma gêmea.

- E porque ela não é um anjo como eu?

- Adriel, não sei tudo. Terá que descobrir o restante por si mesmo.

- E o que faço, então?

- Faça o correto: fique aqui até descobrirmos como recuperar seu corpo fluídico e então veremos uma forma de retornar para sua garota.

- Por alguns anos, Hayel? Impossível. Prometi voltar em alguns dias.

- Daremos um jeito de avisá-la. Ela esperará.

- O anjo Liah, responsável pelos Elementais, poderia avisar a fada Tana e ela por sua vez avisaria Maise, mas não sei. É difícil demais ficar sem ela. Sinto muitas saudades.

- Você pode retornar na hora que desejar. Não vamos impedir. É sua decisão. Apenas pense no que seria melhor para ambos em longo prazo.

- Obrigado, Hayel. Preciso pensar em tudo que conversamos. Amanhã decidirei.

- Está certo, meu amigo. Fique em paz.

Ele saiu e permaneci, refletindo e oscilando entre a razão e o coração, sem conseguir escolher.

Quando decidia permanecer, lembrava de Maise e das saudades que sentia. Como viver anos longe dela, sem ver sua presença eletrizante, sem tocar seu corpo macio, ouvir sua voz ou o som de sua risada?

Hayel estava enganado: eu era incompleto sem ela e somente voltaria a sentir-me completo quando pudesse estar ao seu lado novamente.



Texto registrado no Literar.

Imagem daqui.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

(Dragon Quest IX) Críticas, primeiras impressões, detonados e minha breve vida como anjinho.

À primeira vista parece que nada mudou, exceto o enredo e os personagens. O traço característico de Akira Toryama, criador de Dragon Ball, é o mesmo. Ali estão as pequenas e bucólicas aldeias, os monstrinhos algo infantis, como o tradicional slime (a gota de água azul) e o Cruelcumber (pepino cruel. lol). A música, alegre e rítmica, algo pueril, também é a praticamente a mesma. A primeira impressão é de que a Square-Enix não quis arriscar e manteve tudo igual, apenas com algumas melhorias no gráfico, que é mais bem acabado, mas é apenas impressão. Conforme vou jogando as diferenças vão surgindo. O primeiro grande diferencial é no modo multiplayer que foi introduzido. Ainda não joguei porque não tenho o adaptador para conectar o DS à internet, mas está lá, à minha disposição. Este modo online foi responsável por um recorde mundial em 20/05/10, com mais de 100.000.000 de encontros no modo aleatório, em que se pode "esbarrar" em uma pessoa desconhecida que está andando próx

Jogando Final Fantasy XIII

Estou com um problema sério de inspiração e não consigo escrever nada no momento. Para ajudar, esta semana foi lançado um jogo que estava esperando à quase dois anos: Final Fantasy XIII. É um RPG para xbox360. Uma estória como as que escrevo, cheia de fantasia, de beleza, de encantamento. Estou no comando de um grupo de jovens idealistas que luta para libertar seu planeta de um governo tirano. rsrs O bem precisa derrotar o mal, não é? E está em minhas mãos. lol É para lá que vou por uns tempos. Peço desculpas pela pausa na estória, agradeço a visita e a compreensão. Abraços!

(FF XV) Capítulo 14 - 2 milhões de xp e 133 mil gil com o esquema dos Wyverns

Passei dois dias inteiros sem jogar. Mas valeu a pena, foi um Natal muito gostoso, como espero tenha sido o de todos vocês. Antes de ir, não resisti e fiz uma dungeon completa, a do Estreito de Crestholm. Não tem arma real lá. Eu queria fazer porque lá estava a quest da Cindy, O sempre ilustre Regália e também a quarta parte do mapa do Tesouro em papel. Também lá tem um Amuleto do Moogle, que concede + 20% de xp para quem o tiver equipado. Eu já tinha um. Acho que peguei nas Minas Balouve quando fui lá dar uma olhadela e saí correndo para não morrer. rs Bom, o Estreito de Crestholm é um labirinto com mobs lvl 39 e um monte de níveis. Você tem que acionar 7 mecanismos para abrir a porta final. Eu tentei seguir o esquema abaixo, do guia oficial, mas acabei me perdendo um monte de vezes e no fim deu tudo certo. lol Tem dois bosses. Uma espécie de medusa e um tipo de dragão. A medusa não dá quase trabalho e o dragão eu gostei da luta. Ela tem um efeito especial muito bon

FFXIII - Definindo as armas da equipe KILLER

Olha a cara da Lightning: cansada de esperar que defina sua arma. lol Estive segurando a decisão sobre as armas dos personagens até agora, assim como sei de algumas outras pessoas fazendo o mesmo. É complicado porque uma arma tem isto, mas em compensação é fraca naquilo e por aí vai. Não tem uma que se possa dizer realmente boa ou a definitivamente melhor para determinado personagem, exceto talvez aquelas que serão vendidas no Shop Gilgamesh que só abre a partir da conclusão da Missão 46. E nem adianta ir direto lá tentar a sorte, porque ela só desbloqueia depois que fizer a 42, que só desbloqueia... enfim. A questão de dinheiro já está relativamente resolvida e agora é decidir entre as opções disponíveis ou por armas coletadas ao longo do jogo ou que possam ser adquiridas nos shops Up the Arms ou Plautu´s. Penso que a única forma de resolver esta complicação é elegendo um diferencial e seguir por ele e no caso das armas só pode ser a propriedade especial da arma, porque potencia

(FF XII) Zodiac Job System e seu sistema de classes

Por André Anastácio O quadro de licenças e o Zodiac Job System Para quem não é familiar, o quadro de licenças de Final Fantasy XII é onde ocorre toda a customização sobre o que é que o personagem poderá fazer. É basicamente uma enorme árvore de talentos (semelhante ao Sphere Grid do X) no qual podemos seguir o caminho que desejamos e, dessa forma, customizar o estilo de combate de cada um dos personagens. Tudo que quisermos que um personagem tenha acesso - indo desde magias e técnicas, e até mesmo quais equipamentos ele poderá equipar - precisa ser comprado no quadro de licença antes de estar disponível para aquele personagem. A principal diferença entre o jogo base e o Zodiac Job System está justamente no quadro de licenças. Na primeira versão, existia apenas um enorme quadro disponível para cada personagem e não existia nada que limitasse o que é que os personagens poderiam ter acesso enquanto avançavam por ele. Dessa forma, ao chegar no fim do jogo seus personagens pod